Outro caminho
A cada dia olho e reparo com mais
cuidado nossa cultura. Vejo a educação
que as crianças recebem nas escolas, o
que passa nas televisões e mídias, o que está acontecendo na ruas ,no trânsito
, pelas calçadas. Outro dia fui no shopping comprar uma calça e vi lá também. E vejo as religiões várias. E nas
relações afetivas, na forma de se alimentar, de nascer, crescer e ficar mais
velho. Vejo no jeito que lidamos com
mundo das plantas, da água, dos bichos. Vejo, de maneira explícita, na
divisão sexual da vida social.
A cada dia se torna mais nítido e com
mais detalhes como nossa relações estão
saturadas de práticas e valores patriarcais.
Agora,
preciso declarar que eu tenho uma teima. Acho que tem outras coisas que também
acontecem ali, na vida vivida, sua muitas expressões. Outras formas que não
essas. Ás vezes estão totalmente invisíveis. As vezes estão sendo reprimidas
porque estão ganhando corpo. Em outros momentos estão nascendo, feito um
sementinha que acabou de brotar. Estão virando teoria, práticas coletivas,
formas de subjetivação. Tem também muitas formas e intensidades.
Sou
psicólogo e costumo dizer que há uma dupla consciência que nos atravessa. De um
lado, de maneira hegemônica – essa cultura dominadora, opressiva, exploradora.
Mas de outro, sempre uma tentativa, uma alternativa, um querer outro caminho. Como
diza José Carlos Mariátegui e uns índios conhecidos meus , temos duas almas que
estão o tempo todo presentes.
Tenho observado
isso nas relações de gênero. A tal da guerra dos sexos , hiper fragmentação
identitária, o povo se devorando e se cuspindo sem parar. O tal do ódio , esse afeto
que agora anda tão em voga, muito presente. Ódio explícito e
escancarado, mas também escamotado, com mil disfarces, confundido
misturado no meio de outros afetos.
Mas daí que preciso de novo declarar minha teima.
Acho que dá pra tentar um outro caminho que não seja exclusivamente da guerra,
da violência , da divisão. Cada dia olho
e reparo na nossa cultura e minha teima anda ganhando mais tamanho e forma. Dá pra
conhecer cada vez melhor como em cada lugar essa cultura do ódio se expressa e
nos enreda.
É possível
criar outro caminho.