quinta-feira, 21 de setembro de 2017

   Julieta Paredes ou mano, segue as mina

Esses dias cruzei com um vídeo no you tube de uma bruxa zica - assim me descreveram ela - a professora Rita Laura Segato. Ela mexe com questões de violência, gênero e colonialidade. A muié é bruxa zica memo. Nesse vídeo ela fala de dois projetos históricos que estão em disputa hoje. O primeiro é o da colonialidade, o projeto histórico das coisas. Projeto do acúmulo de coisas e da exploração do mundo. É o projeto que produz indivíduos. O outro é o projeto da vida, do vínculo, da festa e do prazer. Projeto histórico que produz comunidade.
Isso de sair caçando novos projetos alternativos ao capitalismo colonial já é assunto que me instiga faz tempo. Com amigas, aqui e acolá sempre trocamos novas impressões sobre isso, um novo matiz, um novo detalhe, outro nózinho que se abre. Nesse mundo horroroso,  onde a cada dia surge uma nova cabeça da hidra capitalista, é um treta complexa pensar no que seria um outro projeto societário para além do capital, ou, como diz o Anibal Quijano, um novo sentido histórico. Algo que reúna esse monte de opressões, de violências, de dominações e subverta essa parada toda.
Foi o próprio Quijano  que um dia  me falou de algo bem parecido com isso que a Rita Lauro defende. Me falou que, daqui pra frente, cada vez mais veremos o mundo dividido entre um grupo fundamentalista em todos os níveis  que se possa imaginar – e até  onde nem imaginamos – bárbaro, falocêntrico, assassino, desgracento de tudo. Miséria em todas as formas. Será a personificação de “última geração” daquilo que o Dussel chama do paradigma do“eu extermino” que move a dita civilização euro ocidental. Sempre que lembro desse papo, me vem na cabeça um desses líderes religiosos fundamentalistas que ficam babando ódio na televisão e arrastam multidões.
E na outra banda, segundo o Quijano, se fortalecera cada vez mais o que a gente pode imaginar de mais diverso e miraculoso. Dos inúmeros pontos de vista. Visível e invisível. Do imaginário, do trabalho  como libertação, do gênero como exercício dos afetos deslumbrantes, do prazer para além do consumo. Do corpo, da terra, da imanência, das substâncias das delícias das gosmas das formas todas e muitas. Dos mil pensamentos articulados e invertebrados. Dos cósmicos inimagináveis. Do concreto.
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Bom, tudo isso pra dizer que na semana que vem chega em São Paulo a Julieta Paredes, líder do feminismo comunitário boliviano. Comunitário, latino-americano, popular e intergaláctico
Intergaláctico.
A proposta do feminismo comunitário é uma articulação entre vários pontos e propostas críticas. Feminismo crítico, pensamento social crítico, descolonização critica. Uma proposta de  práxis e viver comunitário que leve em consideração a memória ancestral das mulheres indígenas do continente. E de outras mulheres. Seu tempo, seu corpo, sua vida. E mais um monte de outras coisas, entre elas, o viver em comunidade com todos os seres, não só entre humanos. O trem é intergaláctico como disse.
Intergaláctico.
Não quero ficar aqui tentando falar do feminismo comunitário. Não tenho condições pra isso. Mas só queria escrever esse pouquinho aqui pra poder dizer que nessas inquietações de tentar achar um caminho crítico menos zuado pelo eurocentrismo tenho encontrado um monte de práticas, idéias e conhecimentos firmeza total. E que aos poucos vão amarrando  o que seria esse projeto histórico do vinculo, da vida e do prazer comunitário para além do capital.  E nisso, o feminismo comunitário é algo que me deixou muito muito impressionado. Água fresca em tempos muito áridos, água de estrelas. É lindo, potente, guerreira. Saravá  Julieta Paredes. Quem puder colar pra conhecer. Axé total.
Mano, segue as mina.
Salve as bruxa zica, os bicho, a terra, as lua, as criança as força.
Salve as planta.  

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