Esses dias andei dando umas voltas pela Argentina. Fui
conhecer os Varones Antipatriarcales de Cordoba, fui numa marcha contra o
feminicidio por lá e em umas oficinas de educação popular sobre o tema. Foi
muito bom. Várias coisas. Várias. Mas to matutano ainda, depois escrevo. Por
hora, traduzi o texto do Maurício, um dos mano que toca o Coletivo por lá. O
texto é bom, dá uma boa idéia geral. Os cara são muito legal. Lê aí, firmeza
total. Os homens ainda querem ser cabroncitos. Pero ya no no son todos.
Coletivo de Varones antipatriarcales de Cordoba
Tentamos entender que o
patriarcado não é uma palavra, uma definição, uma categoria. É uma forma de
organização que todxs sustentamos
diariamente, queiramos ou não. O patriarcado está aqui e nos atravessa em todos
âmbitos onde nos desenvolvemos. Somos reprodutores desse sistema, seu cúmplices.
“É claro que são todos uns viados que
se juntam pra ficar se pegando”. Essa
foi a definição que uma vez escutei sobre o Coletivo. E foi por causa dessa
definição que decidi me aproximar e participar. Porque se um grupo de pessoas
gera tanto rechaço, preconceito, ódio, ignorância e incômodo devia ser
interessante. Devia, pelo menos, para que eu me questionasse, me incomodasse.
Porque?
Porque é fácil ajustar-se a um
sistema que ordena tudo e que ensina a
não questionar, a não dizer nada.
Porque é difícil saber que você faz
parte de um sistema que mata, que viola que reprime.
Porque é ainda mais difícil ainda
tentar sair desse sistema, ou pelo menos começar a compreendê-lo para
desativá-lo.
Porque é difícil começar a viver na
carne o que vai aprendendo no caminho da luta antipatriarcal e anticapitalista.
Porque feminismo não e o mesmo que
feminazi. Porque o feminino não e oposto de machismo. Porque não é o mesmo um
homicídio que um feminicídio. Porque um feminicida não está enfermo, naão esta
louco, nem é “um violento” ou um caso isolado.
Porque ainda há muita gente que pensa
que a homossexualidade é uma doença ou um desvio. Porque “entender” as mulheres
não é o mesmo que deixar de ser machista. Porque ser um homem “alto astral” não é o mesmo que deixar de ser machista.
Porque lavar os pratos, arrumar as roupas, cozinhar e tirar o lixo não te
elimina automaticamente da categoria de “machista”.
Porque não basta simplesmente dizer que é uma brincadeira ou
então chamar alguém de exagerado quando reprimir seu comentário machista,
homófobo, racista ou opressor. Porque ainda há muita gente que pensa que o
feminismo é coisa de mulheres perturbadas que querem acabar com os homens e que
reclama demais porque “já alcançaram a igualdade”.
Porque ainda restam muitas mulheres
machistas.
Porque ainda há muita gente que exibe essa dupla moral que
faz com que se horrorizem diante de um feminicídio e, por outro, sustentam que
“alguma coisa motivou isso que aconteceu”.
Porque se segue justificando a violência e a discriminação cada
vez que se fala de “culpa” em vez de responsabilidade. Se segue tratando o
violento como um caso extremo, isolado.
Porque
muitos acreditam que um feminicida sai de um repolho, ou surge de geração
expontânea: um feminicida é teu filho, teu pai, teu tio, teu avô, teu amante,
teu amigo. Uma mulher morta é sua esposa, tua mãe, tua sobrinha, tua amiga. E
porisso que o machismo NÃO É algo fora desse mundo. O machismo é uma conduta
perfeitamente normal dentro de um sistema opressor.
Porque a maioria de todos nós ainda desconhece muita coisa. E
ainda cremos que muitas coisas “sempre foram assim”.
Porque sempre foi necessário fazer algo para frear a
violência machista. È importante que nos conheçamos, nos reconheçamos em luta e
saibamos contar uns com os outrxs.É preciso armar redes para aprender e
compartilhar experiências. Para aprender, sempre para aprender.
Para isso existe
o coletivo Varones Antipatriarcales de Códoba. Um coletivo que não reivindica
o conceito de varón, mas tenta questionar essa categoria, criticá-la,
demolí-la.
Um grupo de corpos que tentar lutar contra o patriarcado e
contra o capitalismo, sistemas responsáveis por TODAS as mortes de violência de
gênero, de Todo tipo de discriminação e
ódio. Tentamos entender eu o patriarcado não e uma palavra, uma definição uma
categoria. È uma forma de organização que
todxs sustentamos diariamente, queiramos ou não. O patriarcado está aqui
e nos atravessa todos âmbitos em que nos desenvolvemos. Somos reprodutores desse
sistema, seu cumplice.
Porisso existe esse coletivo.
Porisso
tantos companheiros tentam todo dia fazer algo. Para isso nós trocamos com
outros coletivos, agrupações e partidos. Porisso participamos de oficinas e
debates. Porisso lemos, nos juntamos e aprendemos discutindo e acordando.
Porisso organizamos um encontro anual que em 2016 será em 13, 4 e 15 de agosto.
Convocamos a todxs aquellxs que queiram compartilhar e aprender conosco
Isso é o coletivo de Varones
Antipatriarcales. Ou isso não é. Em todo caso, o coletivo e feito por
todos durante todo o tempo. Está sempre
em construção e sempre se desconstruindo. E sempre está tentando se implicar
diante desse capitalismo que silencia,
que etiqueta, que destrói, que viola e que mata.
Agradecemos por não entender. Te convidamos a tentar
entender juntos.
Escrito por
Mauricio Acts Piazza. Membro do Coletivo de Varones
Antipatriarcales de Córdoba-
Argentina.