sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Outro caminho

A cada dia olho e reparo com mais cuidado  nossa cultura. Vejo a educação que as crianças recebem nas escolas,  o que passa nas televisões e mídias, o que está acontecendo na ruas ,no trânsito , pelas calçadas. Outro dia fui no shopping comprar uma calça e vi  lá também. E vejo as religiões várias. E nas relações afetivas, na forma de se alimentar, de nascer, crescer e ficar mais velho. Vejo no jeito que lidamos com  mundo das plantas, da água, dos bichos. Vejo, de maneira explícita, na divisão sexual da vida social.
A cada dia se torna mais nítido e com mais detalhes como nossa relações  estão saturadas de práticas e valores patriarcais.
                Agora, preciso declarar que eu tenho uma teima. Acho que tem outras coisas que também acontecem ali, na vida vivida, sua muitas expressões. Outras formas que não essas. Ás vezes estão totalmente invisíveis. As vezes estão sendo reprimidas porque estão ganhando corpo. Em outros momentos estão nascendo, feito um sementinha que acabou de brotar. Estão virando teoria, práticas coletivas, formas de subjetivação. Tem também muitas formas e intensidades.
                Sou psicólogo e costumo dizer que há uma dupla consciência que nos atravessa. De um lado, de maneira hegemônica – essa cultura dominadora, opressiva, exploradora. Mas de outro, sempre uma tentativa, uma alternativa, um querer outro caminho. Como diza José Carlos Mariátegui e uns índios conhecidos meus , temos duas almas que estão o tempo todo presentes.
                Tenho observado isso nas relações de gênero. A tal da guerra dos sexos , hiper fragmentação identitária, o povo se devorando e se cuspindo sem parar. O tal do ódio , esse afeto que agora anda tão em voga, muito presente. Ódio  explícito e  escancarado, mas também escamotado, com mil disfarces, confundido misturado no meio de outros afetos.
                Mas  daí que preciso de novo declarar minha teima. Acho que dá pra tentar um outro caminho que não seja exclusivamente da guerra, da violência , da divisão. Cada dia  olho e reparo na nossa cultura e minha teima anda ganhando mais tamanho e forma. Dá pra conhecer cada vez melhor como em cada lugar essa cultura do ódio se expressa e nos enreda.
                É possível criar outro caminho.