sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Dança
Nisso de ir atrás de entender os nossos machismos e como isso nos habita, aqui acolá tropeço em alguma coisa que tem a ver com o zen. Acho o zen foda demais. E também o taoísmo. Que coisa mais sublime que são essas filosofias. Até difícil encontrar palavra. Num tem né, a caça da palavra se desfaz num círculo. E até o circulo uma hora termina. Não tem  palavra que dá conta. Foda demais. Mas daí acho que elas dizem um tanto de coisa boa pra isso de pensar como funciona o machismo em nós.
Em muitas práticas orientais, o mundo é visto como interação entre polos de energia, o mundo se desenha com esses pólos se seguindo, se orientando, co-existindo. Essa é uma visão muito iniciante de quem conhece pouco. Coisa de ocidental que te mania de ler. Mas, feito esse desconto, me atrevo. Olha só essa história.
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Musachi foi um grande samurai e guerreiro de espada que viveu no Japão do séc XVI. Musachi era extremente agressivo e atormentado. Desde menino ele se perguntava muito sobre o fato de ser samurai. Muitas vezes não via sentido naquilo, nos duelos, na espada. Havia saído de casa muito cedo, após um desentendimento com seu pai. Ao que li caçando aí pelas net da vida, o pai do Musachi- também um grade samurai – foi violento com ele.
Nesse dia Musachi saiu de casa. E encontrou um mestre.
Esse mestre de Musachi servia de conselheiro e acalmador. Musachi não entendia seu destino de lutador de espada, se perguntava o porque não ser outra coisas. Tinha muita angústia. E muita agressividade descontrolada. Nessas horas, o mestre costumava acalmá-lo até o momento do combate. Sempre venceu. Mas sempre, depois de um tempo, Musachi voltava ao seu lugar de tormenta.
  Uma hora dessas, bem quando Musachi ia enfrentar o maior dos samurais  da época, o mestre cessou os conselhos. Não havia mais o que dizer a Musachi. Só que dessa vez o cara tava cachorro loco total, babando ódio, totalmente fora da casinha, querendo matar Deus e o mundo, muito transtornado. Nunca tinha ficado tão angustiado, tão se perguntando qual o sentido daquilo tudo e tão dentro de um treta daquela tamanho. Parece que o opositor era um samurai pesado mesmo. Musachi tava muito fora mesmo. Dando o loco memo. A coisa tinha chegado no limite.
Daí o mestre pegou um varinha dessas de galho e riscou um circulo no chão e deu duas espadas para Musachi. Coisas do zen.  O circulo e duas espads. Um enigma, um poema, um desafio. Diz que Musachi gritou, chorou,  reclamou, riu, desistiu, se moveu, descansou, gritou, gritou se exauriu.
Estava com as duas espadas.
Musachi se moveu. Em algum momento, entendeu. Musachi saiu do círculo.
Nesse momento, Musachi havia criado o estilo de luta usando duas espadas. Mudou a arte da espada de toda história do Japão.
Musachi fez um gesto de reverência ao mestre.  E venceu o desafio contra o grande samurai. Foi sua última luta.
Quem viu Musachi se movendo afirma: era a própria dança do universo.
Musachi se tornou mestre de outros guerreiros de espada. E mestre de pintura.
Havia também muita destreza na caligrafia de Musachi. Ao escrever, era também a dança do universo. Dança expressa entre o preto e o branco.
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Quem me contou essa história foi um amigo que criou um exercício corporal baseado nessa história. O nome do exercício é uma mão faz outra acompanha
Acho que não tenho a capacidade de escrever essa história. Mas sei que quando ouvi lembrei muito do tema do machismo. Talvez precise escrever ela muitas vezes para passar o que acho que entendi. Com isso de machismo é assim né. Você vai e volta e vai. E muitas vezes volta para o mesmo lugar. Tipo um círculo memo.
Daí que talvez o mais importante seja dançar. As mãos, as cores, as espadas. Uma dança onde uma polaridade vai. E a outra acompanha. E depois há uma volta.
Outro amigo meu me disse esses dias que o patriarcado é como uma espada apontada o tempo todo sobre nossas cabeças.

Talvez o mais importante seja dançar. Tipo um círculo memo.

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