sábado, 3 de outubro de 2015

Pero ya no son todos, uma apresentação.
Aunque fueron cabrones los compañeros hombres” y “hay algunos cuantos todavía que se ponen cabroncitos, pero ya no son todos”. 
Já tem um tempo que ando matutano essa estória de machismo. Querendo fuçar mais nisso dentro do mundo masculino, como ele se realiza, se expressa, como o patriarcado age, opera, se realiza, se desdobra, se mantêm, mantem privilégios, mantêm violências e invisibilidades. Enfim como, no mundo dos homens e suas masculinidades se estabelece o tal do machismo.
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Olá! Domingo à noite, lua cheia, noite de eclipse. Tenho uns amigos pataxó que , quando tem eclipse, saem de casa batendo panela e gritando, vai lua vai! È para ajudar a lua a vencer a  luta contra o monstro que está comendo ela. 
Tá uma chuvinha fina e necessária na cidade de São Paulo. A casa tá uma bagunça só. Será arrumada amanhã. Hoje não né, tá tudo muito domingo. A chuvinha , mesmo fina, cala o pássaro solitário que canta aqui na árvore. Moro em uma casa na árvore, e isso é muito importante para entender o que eu escrevo. Mas isso não vem ao caso agora. 
Dai que resolvi vir aqui escrever algo simples, só pra apresentar o blog, penso eu comigo mesmo e com os outros invisíveis que me arrodeiam - em algum momento falo deles agora também não é hora disso. Nada de inventar muito- penso eu de novo. Só apresentar rapidinho o blog e pronto, é isso aí.
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Já tem um tempo que ando matutano essa estória de machismo. Querendo fuçar mais nisso dentro do mundo masculino, como ele se realiza, se expressa, como o patriarcado age, opera, se realiza, se desdobra, se mantêm, mantem privilégios, mantêm violências e invisibilidades. Enfim como, no mundo dos homens e suas masculinidades, se estabelece o tal do machismo.
O pressuposto básico de onde parti não é lá dos mais elogiosos aos homens. Já faz um tempo que ando muito impressionado com nossa dificuldade de falar sobre o tema do machismo. Falar que eu digo é algo do tipo conseguir desenvolver mais de três frases coerentes sobre esse tema,  frases que sejam encadeadas e que consigam montar uma idéia básica que abra uma reflexão. Dá pra contar nos dedos as vezes que vi isso acontecendo. Nos dedos de uma mão. Isso porque vivo no mundo das esquerdas das culturas das críticas e esses rocamboles todos onde, teoricamente, esse é um assunto a ser  pensado e refletido a todo momento. Só que não. Não é isso que acontece. Isso é o que eu acho. Espero estar errado e  sendo injusto. Tomara que seja engano meu, má vontade, ensimesmamento meu que não me permite ver o que tá rolando. Tomara mesmo, de verdade. Mas minha hipótese é que não. Daí resolvi escrever sobre isso, levantar essa bola, ver se alguém quer falar disso comigo.
           Há também nessa decisão uma necessidade de encontrar companhia nessa minha inquietação. Já que tenho tanta dificuldade de encontrar pares que queiram falar disso no mundo real, talvez aqui pela net eles apareçam. E elas né. Enfim, elxs. Seria ótimo.
Escrevo pra ver se alguém tem vontade de ler e dividir um pouco suas experiências e escrevo também pra dividir as minhas, o que eu penso, o que eu vivo, o que me faz tropeçar em mim mesmo toda hora, me perguntar porque eu sou/fiquei assim. Pra falar um pouco dessas coisas que me fazem querer bater a cabeça na parede de desespero por me perceber tão tosco, tão embotado.
Vou parar de escrever porque isso é só uma apresentação simples do que é esse espaço. E ele é isso, um blog que vai ter uns textos postados aqui a cada dez, quinze dias, onde eu vou  tentar falar um pouco a minha condição de homem e da condição de homem em geral (seja lá o que é isso for). Não sou estudioso do assunto, não é por aí meu interesse. Sou homem, sou tosco e queria muito me tornar um pouco menos. E acho que seria da hora se os homens que sentem isso pudessem começar a trocar idéia e ver o que rola a partir daí. Acho que deve ter alguém já fazendo isso já em algum canto, às vezes assim pela net encontre mais fácil.
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           O título “pero ya no sono todos” eu tirei de uma postagem no site Radio Zapatista – http://radiozapatista.org/?p=13086 - onde uma figura desse coletivo narra um dia de debates num encontro lá em Chiapas sobre a condição das mulheres zapatistas e de outras latitudes.  Pusta relato legal. Vale a pena ler. Daí tem uma hora lá que uma liderança zapatista diz “Aunque fueron cabrones los compañeros hombres” y “hay algunos cuantos todavía que se ponen cabroncitos, pero ya no son todos”.Ffiquei com essa frase me rondando depois de ler esse texto. Ya no son todos…





           Por conta desse relato também fiz um pequeno escrito. Vou colocá-lo aqui pra fechar essa apresentação. Daí depois já vou colocar os dois textos que já produzi esses tempos aí. Um já saiu no blog da Forum, aquela revista. Chama O homem e sua anta interior Foi a Jarid Arraes, uma figura firmeza que eu conheci nessas andança por aí que leu e achou bom publicar. O outro não saiu ainda por canto nenhum. Chama homem, um monossílaboVamos ver se ganho fôlego e tempo pra ir publicando por aqui. Comenta aí quem quiser, escreve também. Espero que gostem.
Até acabou de chover já. Daqui a pouco o passarinho chega acho. Pra cantar pra lua cheia em eclipse. E eu vou logo logo pra rede. Dia de lua cheia o povo devia dormir tudo na rede. As pessoas não tem idéia o bem que isso faz pra gente. Mas vou ficar levantando pra ver se a lua tá aparecendo. Quem sabe bato até uma panelinha. Vai saber né…
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                                            Escrito sem rosto.
Sempre vi meu rosto porque ele sempre esteve à vista. Sempre me reconheci, porque sempre fui reconhecido. E o que vi e sempre foi visto, o que reconheci e sempre foi reconhecido, hoje parece matéria disforme. Retrato de um homem feito coisa. Onde me reconheci- e me reconheceram - vejo hoje esse acúmulo de violência petrificada, dor instalada, seca, escombro de escombros. Retrato nú de um poder sem memória.
Tão difícil escrever disso né. Escrever sobre o que não se sabe, não se conhece. Escrever sobre o que é difícil até de começar a querer saber. Um sofisticado homem branco filósofo  traçando um sofisticado diálogo conceitual com  outro sofisticado homem branco filósofo escreveu sobre uma mulher indígena guatemalteca, que seu rosto emergindo da violência colonial era o rosto de nossa libertação que também emergia.
Pois bem, amigos sofisticados homens brancos e filósofos. Não tenho esa certeza sobre o rosto dessas mulheres. E não sei se decidirmos - desde nossos doutos privilégios - que a libertação de todos tem a cara de uma mulher indígena é algo que deva ser feito.
Eu prefiro falar de um outro rosto. Sobre o rosto que esboroa , que definha, que se retorce nas dores do antiparto do poder quando se vê minimamente ameaçado.
 Acho que devíamos contar do desespero infantil que sentimos quando vemos  ir embora um só filigrana da falsa certeza que carregamos no semblante. Contar que essa inaptidão para a vida compartilhada nos fez especialistas em submeter, oprimir e violentar sem dó. Rindo por dentro, Do porão que urra às minímas delicadezas, dilacerando tudo.
Contar que assim temos nossos rostos reconhecidos. Contar que é  que assim nos reconhecemos. Contar que quase não sabemos de nada por nós mesmo, mas aprendemos a nos manter nesse puro brilhar, mandando e fingindo que sabemos. O preço disso? Não importa.
Amigos sofisticados homens brancos  e  filósofos, esse rosto que se contorce ao mínimo esforço, precisa ser dito, exposto, escancarado em seu vício e necessidade cega de dominação. Essa necessidade que muitos, para dizer dela, usam a palavra cão. A palavra porco.
Se os amigos homens brancos filósofos e sofisticados querem mesmo essa libertação que está em muitas das frases e análises tão difíceis que vivem elaborando, comecemos por tocar em nosso próprio rosto, essa matéria negativa. Dai quem sabe poder ouvir a frase da indígena zapatista e sentir o fio de água – hilo dulce de la muerte - descer vagaroso por entre nossas faces:
                 Aunque fueron cabrones los compañeros hombres” y “hay algunos cuantos todavía que se ponen cabroncitos, pero ya no son todos”.

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